Minuto Mercado Financeiro

Fundo do Poço ou Alçapão?

02 de junho de 2022



A coluna Minuto Mercado Financeiro é assinada por nossos sócios e assessores Heric Girardello e Ana Paulin.
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Existe uma célebre frase atribuída ao financista londrino Nathan Rothschild que diz: “Compre ao som dos canhões e venda ao som das trombetas”, ou a variação de que “a hora de comprar é quando há sangue nas ruas”. Independentemente de qual seja a frase, o conceito é o mesmo, as melhores oportunidades de investimento aparecem quando reina o caos e a maioria das pessoas quer se desfazer dos seus ativos, reduzindo o risco das suas carteiras.

                Tivemos o pior início de ano do mercado financeiro global em 40 anos, com as bolsas despencando mundo à fora e os investidores fugindo da volatilidade em direção à renda fixa ou outros ativos ao redor do mundo. A grande questão que fica agora é: já chegamos ao fundo do poço com a queda acumulada de 13% no S&P 500 e de mais de 22% no índice Nasdaq das empresas de tecnologia? Ou nesse poço tem um alçapão com espaço para mais quedas? Infelizmente o gato derrubou nossa bola de cristal e não temos essa resposta.

Muito desse movimento já estava claramente escrito com a escalada da inflação global forçando os bancos centrais a subirem os juros, e aqui no Brasil os gestores de fundos multimercados souberam aproveitar muito bem esse movimento, apostando tanto na queda da bolsa americana quanto na alta dos juros. Por conta disso, ocorreu um grande movimento de valorização dos Fundos Multimercados no Brasil, que até o momento estão no topo do ranking de valorização.

Tudo o que acontece na vida nos traz lições, e uma das inúmeras lições que aprendemos nos últimos 2 anos é a importância do portfólio diversificado. Em 2021, os investimentos no Brasil foram muito difíceis, juros básicos da economia muito baixos, aliados à escalda da inflação e queda na bolsa de valores local, porém a parcela internacional das carteiras trouxe belíssimos ganhos. Já em 2022 está acontecendo exatamente o inverso, juros no Brasil muito altos trazem a possibilidade de bons ganhos sem necessariamente acrescentar risco e volatilidade, porém a parcela internacional sofreu um baque e tanto.

E os números do mês?

                Em uma demonstração de resiliência frente ao cenário conturbado, nosso índice Ibovespa fechou Maio com ganhos de 3,22%, recuperando-se um pouco do abril conturbado e acumulando valorização de 6,23% até o momento. Porém se formos olhar o desempenho da bolsa em Dólar, podemos entender porque os gringos estão felizes com nosso pais, a bolsa brasileira é uma das melhores do mundo com desempenho de quase 25% no ano. E falando em dólar, fechou maio em R$ 4,7526 em baixa de 3,85% no mês e somando queda anual de 14,77%.

Previsão Ibovespa 130.000 pontos

Uma das principais maneiras de avaliar se alguma ação está cara ou barata é o famoso Preço/Lucro, pois é uma relação direta entre o preço da ação e quanto essa empresa gera de lucro. Olhando-se por esse critério, a bolsa brasileira está sendo negociada com um desconto de aproximadamente 40% sobre a média histórica dos últimos 15 anos. Além disso, ela está mais barata do que a grande maioria dos outros mercados globais. Obviamente que condições de mercado de curto prazo afetam diretamente o preço das ações, e são essas oscilações que abrem espaço para boas oportunidades. Por conta disso, dentre outros fatores, a XP projeta o Ibovespa à 130.000 pontos ao final de 2022.

Para que essa projeção se concretize depende-se de muitos outros fatores além de as empresas estarem baratas ou não, como a continuidade do fluxo de capital estrangeiro, a escalada da inflação, e muitos outros fatores macroeconômicos.

Inflação local

Além da intensa alta dos juros realizada pelo nosso banco central, o governo estuda medidas rápidas para amenizar o problema da inflação. Aprovou-se em maio o projeto de lei que altera a classificação de combustíveis, gás natural, energia elétrica, transporte público coletivo e telecomunicações para bens de serviços essenciais. Com isso, automaticamente aplica-se o teto para alíquota de ICMS (imposto estadual) desses produtos, trazendo isonomia nessa cobrança em que os estados praticavam alíquotas distintas. Alguns estados terão grandes impactos em sua arrecadação, então a União irá compensar perdas acima de 5% para os estados via abatimento de dívida, exceto para aqueles que estejam no Regime de Recuperação Fiscal (Rio de Janeiro, Goiás e Rio Grande do Sul), que serão integralmente compensados.

O governo estima que essas medidas sejam capazes de reduzir o IPCA em até 1% no ano, ajudando a aliviar a pressão da alta dos preços na economia, coincidentemente em um momento muito próximo da eleição presidencial.

China, redução de restrições contra Covid: impactos e medidas fiscais

Dados de atividade da China se apresentaram piores se comparado ao primeiro trimestre de 2021. Os lucros das empresas industriais da China recuaram 8,5% entre abril de 2022 e abril 2021. A expectativa já era de que o país cresceria menos nesse ano, mas o número surpreendeu. A situação foi agravada pela elevação de custo de matérias-primas importadas e pelas medidas de lockdown adotadas em março, causando novamente, a interrupção nas cadeias produtivas. Nessa última semana as medidas restritivas passaram a ser mais flexíveis o que trouxe alívio para as bolsas globais. Em maio, o governo reduziu os juros de empréstimos no intuito de estimular a economia e principalmente o mercado imobiliário, principal ativo de poupança dos chineses. Movimento oposto dos países ocidentais que sobem juros para tentar conter a inflação e reduzir a liquidez do mercado.

Privatização Eletrobrás

                Depois de muitas idas e vindas, foi aprovada a capitalização da Eletrobrás com a venda de ações no mercado. Será uma megaoperação com expectativa de capitalização de aproximadamente R$ 35 bilhões. Assim como aconteceu na capitalização da Vale e da Petrobrás, os trabalhadores terão a oportunidade de utilizar até 50% dos recursos acumulados e investir nas ações da empresa.

Lucros dos Bancos

                Mesmo com o crescimento das fintechs e bancos digitais, que trouxeram aumento de competição para o mercado bancário, e da ampla adoção do PIX, os bancões surpreenderam o mercado com lucros robustos. Banco do Brasil, Bradesco, Itau e Santander lucraram juntos R$ 24,8 bilhões nos primeiros 3 meses do ano, com destaque ao Banco do Brasil que apresentou lucro 57,6% maior do que o mesmo período do ano passado.

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