Minuto Mercado Financeiro

O Dragão da Inflação

06 de julho de 2022



A coluna Minuto Mercado Financeiro é assinada por nossos sócios e assessores Heric Girardello e Ana Paulin.
Os conteúdos ora submetidos na coluna Minuto Mercado Financeiro são de responsabilidade dos seus autores.

Sempre que nasce um investidor, nasce um questionário de perfil de investidor que necessariamente precisa ser preenchido antes de qualquer aplicação acontecer. Com esse breve questionário, é descoberto se ele enquadra no grupo conhecido como Conservadores, no de Moderados, ou até no grupo dos bravos guerreiros investidores Agressivos. O problema é que esses 3 grupos tendem a ser muito generalistas e não representam o verdadeiro perfil do dono daquele dinheiro, pois só iremos descobrir de verdade em alguma crise do mercado financeiro, como é o caso que estamos vivendo nesse momento.

Existem inúmeros artigos espalhados pela grande teia mundial que explicam, debatem e buscam entender o cenário, causas da crise, possíveis resultados e etc. Não é o caso dessa nossa humilde coluna mensal, pois o que queremos levantar aqui são questionamentos sobre a importância de entender sua relação com o dinheiro e o quais os possíveis impactos financeiros, diretos ou indiretos, causados por influência das emoções e do não entendimento de seu próprio perfil. Com exceção de pouquíssimas pessoas no mundo, conquistar patrimônio financeiro é algo MUITO, MUITO trabalhoso, sendo um processo que exige muitas horas de sono, de lazer, de fins de semana e com a família renunciados. Então ter a sensação de que aquele recurso tão duramente batalhado pode se deteriorar e não servir a seu propósito, é algo que definitivamente terá um impacto emocional.

            Pensando de maneira simplista, a principal variável que influencia o comportamento dos mercados financeiros é a incerteza. Pense que a principal missão de qualquer investidor, seja o jovem que está começando a pensar nisso agora, seja o aposentado que está tentando fazer seu dinheiro acumulado na vida durar mais ou sejam os grandes investidores institucionais de fundos que movimentam bilhões de dólares, é buscar o melhor ajuste de expectativa em troca do grau de incerteza do investimento, o famoso “risco x retorno”.

            Essa incerteza pode causar movimentos muitos rápidos como em março de 2020 que as bolsas despencaram mundo à fora, pois ninguém tinha a menor ideia dos impactos que a pandemia de COVID iria causar na economia e nos resultados das empresas, com a corrida para segurança de ativos de renda fixa. São momentos em que por mais caóticos que possam vir a parecer, é menos difícil de estimar qual o momento de reversão do cenário e se preparar para isso.

            No atual momento em que vivemos, essa leitura fica muito mais difícil, sendo a única certeza é a de que os Bancos Centrais ao redor do mundo terão obrigatoriamente de subir suas taxas de juros, e que a era dos juros ultrabaixos está chegando ao fim. Nós brasileiros, como lidamos com a inflação há muito tempo nos adiantamos ao cenário e já estamos terminando a fase de elevação dos juros, com mais uma ou talvez duas elevações. Os americanos começaram há dois meses a sua subida dos juros e a Europa projeta a primeira subida de juros em 11 anos para julho agora, mesmo com a maior inflação da história do Euro com média de mais de 8% em 12 meses e alguns países chegando a enfrentar mais de 10%.

            Outro motivo que tem preocupado os investidores é o início de uma recessão global que pode vir a acontecer por conta de tudo o que já falamos. Pois ao elevar-se os juros, eleva-se junto o “custo do dinheiro”, ficando mais caro para as empresas captarem dinheiro para projetos de expansão, capital de giro etc. Assim como fica menos interessante para a empresa utilizar os recursos e manter o dinheiro em caixa, pois assim como o custo do dinheiro aumenta, sua rentabilidade em ativos livres de risco também sobe. Com isso, toda a economia esfria podendo resultar em recessão.

Mas afinal… O que é uma recessão?

Tecnicamente é quando um país produz menos riqueza por 2 trimestres consecutivos se comparado aos mesmos trimestres do ano anterior. Essa produção é o que chamamos de PIB (produto interno bruto: soma geral da produção do país, calculada a cada trimestre pelo IBGE). Essa é a recessão técnica e que pode indicar uma possível recessão econômica.
Já a recessão econômica é quando esses números começam a impactar no nosso dia a dia:

  • Aumento do desemprego (o que não é uma realidade atualmente),
  • Queda no poder de compra (inflação resistente),
  • Diminuição do nível de investimentos privados e públicos,
  • Queda do lucro das empresas (em alguns setores isso já começa a ser fato, preocupará quando passar de ser pontual e passar a ser sistêmico, atingindo mais setores)
  • Falência de empresas

Numa recessão, quanto mais esse período se estende, mais difícil tende a ser a recuperação.
No Brasil, considerando o período desde a década de 80, passamos por 10 momentos diferentes de recessão, sendo que o mais difícil foi o que vivemos a partir de 2014. Nesse período vimos os juros subir demasiadamente causando uma grave crise econômica até que a inflação voltasse à uma normalidade.

E Agora? O que fazer?

            Precisamos alinhar a premissa que um portfólio de investimentos é um organismo vivo, e como tal deve evoluir e se adaptar aos cenários. Mas antes de qualquer mudança é necessário ter em mente duas coisas: Qual seu perfil de investidor, ou seja, quanto você está disposto a aceitar a volatilidade, ou flutuação da sua carteira ao longo do tempo e qual o horizonte de tempo para cada ativo de sua carteira. Aquele dinheiro que existe a possibilidade de que ele seja utilizado dentro de 6 meses PRECISA estar em ativos de baixo risco, para que você não seja obrigado a realizar prejuízo caso necessite do dinheiro em um período de baixa. Aquele recurso que tem um objetivo de 2 a 3 anos é mais passível de aceitar quedas, pois o tempo irá agir ao seu favor e tende a se recuperar antes da necessidade de utilização. Já aquele dinheiro que está destinado à aposentadoria, em fundos de previdência ou mesmo fundos de ações e que não existe a previsão de uso dentro de ao menos 5 anos, é o dinheiro que podemos ser mais ousados, pois a tendência é que os retornos acumulados desses tipos de ativos, em conjunto com os juros compostos nos tragam retornos exponencialmente melhores.

Como se proteger?

            Temos de respeitar a estratégia da sua carteira de investimentos, e analisar cada ativo de acordo com a lógica que falamos acima, e não tomar decisões baseadas em emoção. Pois boas escolhas que seguem a estratégia tendem a ser muito mais rentáveis do que excesso de movimentação na carteira. No momento de taxas de juros nas alturas, está relativamente fácil fazer escolhas protetivas e que tragam retornos interessantes, tanto em renda fixa quanto em fundos multimercados, mas também temos de lembrar o assunto da coluna do mês de maio, em momentos de crise, onde ninguém quer comprar que são feitos os melhores negócios.

Para finalizar a coluna desse mês, que optamos por um formato diferente em face do cenário, primeira escolha a ser feita é manter a calma e não tomar decisões emocionais, e a segunda escolha deve ser falar com seu Assessor de Investimentos para te ajudar a olhar a carteira de forma assertiva e entender a estratégia por trás dela. E se não tem um Assessor de Investimentos para chamar de seu, sugiro escolher um o quanto antes.

Tenham um ótimo mês de Julho, curtam as festas Julinas, férias dos filhos, viagens, o que for, e entendam que investir é uma maratona e não uma corrida de 100 metros!

Minuto Mercado Financeiro

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