Sempre que nasce um investidor, nasce um questionário de perfil de investidor que necessariamente precisa ser preenchido antes de qualquer aplicação acontecer. Com esse breve questionário, é descoberto se ele enquadra no grupo conhecido como Conservadores, no de Moderados, ou até no grupo dos bravos guerreiros investidores Agressivos. O problema é que esses 3 grupos tendem a ser muito generalistas e não representam o verdadeiro perfil do dono daquele dinheiro, pois só iremos descobrir de verdade em alguma crise do mercado financeiro, como é o caso que estamos vivendo nesse momento.
Existem inúmeros artigos espalhados pela grande teia mundial que explicam, debatem e buscam entender o cenário, causas da crise, possíveis resultados e etc. Não é o caso dessa nossa humilde coluna mensal, pois o que queremos levantar aqui são questionamentos sobre a importância de entender sua relação com o dinheiro e o quais os possíveis impactos financeiros, diretos ou indiretos, causados por influência das emoções e do não entendimento de seu próprio perfil. Com exceção de pouquíssimas pessoas no mundo, conquistar patrimônio financeiro é algo MUITO, MUITO trabalhoso, sendo um processo que exige muitas horas de sono, de lazer, de fins de semana e com a família renunciados. Então ter a sensação de que aquele recurso tão duramente batalhado pode se deteriorar e não servir a seu propósito, é algo que definitivamente terá um impacto emocional.
Pensando de maneira simplista, a principal variável que influencia o comportamento dos mercados financeiros é a incerteza. Pense que a principal missão de qualquer investidor, seja o jovem que está começando a pensar nisso agora, seja o aposentado que está tentando fazer seu dinheiro acumulado na vida durar mais ou sejam os grandes investidores institucionais de fundos que movimentam bilhões de dólares, é buscar o melhor ajuste de expectativa em troca do grau de incerteza do investimento, o famoso “risco x retorno”.
Essa incerteza pode causar movimentos muitos rápidos como em março de 2020 que as bolsas despencaram mundo à fora, pois ninguém tinha a menor ideia dos impactos que a pandemia de COVID iria causar na economia e nos resultados das empresas, com a corrida para segurança de ativos de renda fixa. São momentos em que por mais caóticos que possam vir a parecer, é menos difícil de estimar qual o momento de reversão do cenário e se preparar para isso.
No atual momento em que vivemos, essa leitura fica muito mais difícil, sendo a única certeza é a de que os Bancos Centrais ao redor do mundo terão obrigatoriamente de subir suas taxas de juros, e que a era dos juros ultrabaixos está chegando ao fim. Nós brasileiros, como lidamos com a inflação há muito tempo nos adiantamos ao cenário e já estamos terminando a fase de elevação dos juros, com mais uma ou talvez duas elevações. Os americanos começaram há dois meses a sua subida dos juros e a Europa projeta a primeira subida de juros em 11 anos para julho agora, mesmo com a maior inflação da história do Euro com média de mais de 8% em 12 meses e alguns países chegando a enfrentar mais de 10%.
Outro motivo que tem preocupado os investidores é o início de uma recessão global que pode vir a acontecer por conta de tudo o que já falamos. Pois ao elevar-se os juros, eleva-se junto o “custo do dinheiro”, ficando mais caro para as empresas captarem dinheiro para projetos de expansão, capital de giro etc. Assim como fica menos interessante para a empresa utilizar os recursos e manter o dinheiro em caixa, pois assim como o custo do dinheiro aumenta, sua rentabilidade em ativos livres de risco também sobe. Com isso, toda a economia esfria podendo resultar em recessão.
Mas afinal… O que é uma recessão?
Tecnicamente é quando um país produz menos riqueza por 2 trimestres consecutivos se comparado aos mesmos trimestres do ano anterior. Essa produção é o que chamamos de PIB (produto interno bruto: soma geral da produção do país, calculada a cada trimestre pelo IBGE). Essa é a recessão técnica e que pode indicar uma possível recessão econômica.
Já a recessão econômica é quando esses números começam a impactar no nosso dia a dia:
Numa recessão, quanto mais esse período se estende, mais difícil tende a ser a recuperação.
No Brasil, considerando o período desde a década de 80, passamos por 10 momentos diferentes de recessão, sendo que o mais difícil foi o que vivemos a partir de 2014. Nesse período vimos os juros subir demasiadamente causando uma grave crise econômica até que a inflação voltasse à uma normalidade.
E Agora? O que fazer?
Precisamos alinhar a premissa que um portfólio de investimentos é um organismo vivo, e como tal deve evoluir e se adaptar aos cenários. Mas antes de qualquer mudança é necessário ter em mente duas coisas: Qual seu perfil de investidor, ou seja, quanto você está disposto a aceitar a volatilidade, ou flutuação da sua carteira ao longo do tempo e qual o horizonte de tempo para cada ativo de sua carteira. Aquele dinheiro que existe a possibilidade de que ele seja utilizado dentro de 6 meses PRECISA estar em ativos de baixo risco, para que você não seja obrigado a realizar prejuízo caso necessite do dinheiro em um período de baixa. Aquele recurso que tem um objetivo de 2 a 3 anos é mais passível de aceitar quedas, pois o tempo irá agir ao seu favor e tende a se recuperar antes da necessidade de utilização. Já aquele dinheiro que está destinado à aposentadoria, em fundos de previdência ou mesmo fundos de ações e que não existe a previsão de uso dentro de ao menos 5 anos, é o dinheiro que podemos ser mais ousados, pois a tendência é que os retornos acumulados desses tipos de ativos, em conjunto com os juros compostos nos tragam retornos exponencialmente melhores.
Como se proteger?
Temos de respeitar a estratégia da sua carteira de investimentos, e analisar cada ativo de acordo com a lógica que falamos acima, e não tomar decisões baseadas em emoção. Pois boas escolhas que seguem a estratégia tendem a ser muito mais rentáveis do que excesso de movimentação na carteira. No momento de taxas de juros nas alturas, está relativamente fácil fazer escolhas protetivas e que tragam retornos interessantes, tanto em renda fixa quanto em fundos multimercados, mas também temos de lembrar o assunto da coluna do mês de maio, em momentos de crise, onde ninguém quer comprar que são feitos os melhores negócios.
Para finalizar a coluna desse mês, que optamos por um formato diferente em face do cenário, primeira escolha a ser feita é manter a calma e não tomar decisões emocionais, e a segunda escolha deve ser falar com seu Assessor de Investimentos para te ajudar a olhar a carteira de forma assertiva e entender a estratégia por trás dela. E se não tem um Assessor de Investimentos para chamar de seu, sugiro escolher um o quanto antes.
Tenham um ótimo mês de Julho, curtam as festas Julinas, férias dos filhos, viagens, o que for, e entendam que investir é uma maratona e não uma corrida de 100 metros!
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