Minuto Mercado Financeiro

Acontecimentos que movimentaram o mercado financeiro

06 de abril de 2022



A coluna Minuto Mercado Financeiro é assinada por nossos sócios e assessores Heric Girardello e Ana Paulin.
Os conteúdos ora submetidos na coluna Minuto Mercado Financeiro são de responsabilidade dos seus autores.

Pessoas que são alheias ao funcionamento do mercado financeiro costumam achar estranho, e as vezes até absurdo, que a bolsa se valorize em um momento como foi o mês de março de 2022. Afinal de contas, estamos em um momento com taxas recorde de inflação ao redor do mundo, temos uma guerra entre dois grandes exportadores de alimentos e commodities como óleo e gás, estamos saindo de uma pandemia que matou milhões de pessoas ao redor do mundo, existem sinais claros de uma possível estagflação no horizonte, e para coroar a situação, no Brasil ainda teremos eleições majoritárias que tendem a acirrar ainda mais os ânimos entre esquerda e direita no Brasil.

Mesmo com todo esse cenário, o índice Ibovespa fechou março com ganhos de 6,07% acumulando alta de 14,49% no ano, tendo seu melhor trimestre em 2 anos. Boa parte desse movimento deve-se ao fato da nossa bolsa ter grande concentração em commodities, e por estar barata em dólares, ficando atraente para o capital estrangeiro. Capital esse que ajudou a jogar o dólar para abaixo de R$ 5,00 fechando a maior queda trimestral desde 2009, com desvalorização de 14,6%.

 Até mesmo os mercados internacionais reagiram bem durante o mês, com a perspectiva de um possível cessar fogo no conflito. O índice S&P 500, principal da bolsa americana, encerrou o mês com ganhos de 3,58% mas fechou o primeiro trimestre com queda de 4,95%. O Nasdaq, índice de tecnologia, apresentou resultado semelhante no mês com 3,41% de ganho, porém teve um trimestre bem mais complicando, amargando 9,1% de perda no período. A Europa, até pela relação direta de dependência do gás russo, está com mais dificuldades de recuperação, tendo o índice Euro Stoxx fechando março com perdas de 0,55% e queda acumulada de 9,21% no ano.

Segue agora os principais acontecimentos do mercado em março 2022:

Guerra Russia e Ucrania:
Sanções da união europeia visam dificultar o livre trânsito físico e financeiro da Rússia em território europeu, estrangulando sua economia. Os EUA se envolveram diretamente nas negociações, no momento que a Rússia incendiou a maior usina nuclear da Europa, evitando, por enquanto, o pior caminho do conflito. Na economia real já vemos corrida da população para resgate de dinheiro em espécie e aumento da importação de bens, como eletrônicos e alimentos.

Preço dos combustíveis:
Após a Petrobras anunciar o maior reajuste no preço dos combustíveis desde 2016, o Congresso avançou na aprovação de um pacote de medidas para tentar conter os efeitos da alta.

  • Um fundo de estabilização de preços, que prevê auxílio-gasolina no valor de R$ 300 para motoristas de baixa renda e reforço no vale-gás.
  • Nos impostos, aprovou-se zerar a cobrança de PIS e Cofins sobre o diesel e o gás de cozinha até o fim de 2022. Além de estabelecer valor fixo de ICMS (imposto estadual) para o diesel, que deixa de ser um percentual sobre o custo final na bomba (cada estado estipulava um valor) para ser um valor fixo de R$1,0060 sobre o litro. Os estados estudam recorrer ao judiciário, motivados pela perda de receita, declarando inconstitucionalidade na lei
  • O aumento de preço médio nacional da gasolina para R$7,02/litro deve adicionar 0,6% à inflação e mesmo assim não cobre a defasagem dos preços da Petrobras em relação ao mercado internacional.

Troca Presidente Petrobras:
O governo anunciou a saída do General Silva e Luna da presidência da empresa, mas ainda não definiram qual será o nome, o que causa certa apreensão do mercado frente ao futuro da Petrobras e da política de preços.

Elevação Selic:
O Comitê de Politica Monetária (COPOM) elevou a tax básica de juros, SELIC, para 11,75% e, em ATA, sinalizou possível alta de +1% na próxima reunião (maio). Caso não aconteça nenhum fenômeno fora do radar e os impactos da guerra continuarem dentro do previsto, deverá ser a ultima elevação dos juros nesse ciclo, finalizando em 12,75%.

Elevação Juros FED:
O Banco Central Americano (FED) iniciou nesse mês o movimento da alta de juros, subiu 0,25% em março. A velocidade e intensidade das próximas altas dependerá principalmente da evolução inflacionária no país. O primeiro objetivo é buscar a ‘taxa de juros neutra’ (aquela que nem estimula nem retrai a economia). Se não for suficiente para segurar a inflação, as altas podem continuar.

Entrada de Capital Estrangeiro:
A B3 alterou a metodologia de cálculo para aferir o volume de capital estrangeiro que entra e sai do Brasil. Ela deixa de considerar as operações de empréstimo de ativos e só considera as operações feitas nos mercados à vista, opções e termo. O que reduz o saldo de R$91,1 bilhões para R$64,1 Bilhões em 2022. B3 irá revisar os cálculos de 2020 e 2021 e logo divulgará.

Taxa de desemprego:
Taxa de desemprego diminuiu de 11,6% em novembro de 2020 para 11,2% em fevereiro 2022. Essa é a maior queda nesse período do ano desde 2016. Já o salário médio encolheu 8,8% em um ano, para R$ 2.511, R$ 241 a menos.

PIB 2021 recuperou perdas de 2020:
A economia do Brasil terminou 2021 confirmando a recuperação completa das perdas registradas em 2020. Em 2021 os grandes responsáveis pelo crescimento da economia foram indústria e agropecuária, enquanto serviços, que responde por cerca de 70% da economia, começou tardiamente a esboçar retomada. Porém o ritmo lento do quarto trimestre 2021 e conflitos geopolíticos esse ano, deixam dúvidas sobre o desempenho neste ano, que pode passar de crescimento neutro para retração da economia.

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